Lark
12 de novembro, 2024
No mês passado, eu tirei duas semanas de folga das redes sociais. Eu estava num daqueles estados mentais em que você fica 1 hora procurando algo que está na sua mão, e precisa se esforçar pra lembrar do seu próprio nome. Fazendo jus à minha idade (ou, pelo menos à idade da minha coluna), eu disse a mim mesma: “isso aí é porque você não larga esse celular!”, e foi aí que decidi me deixar de “castigo” (e bote aspas nisso), sem celular por um tempo.
JORNALZINHO DA LARK | EDIÇÃO #03 • NOV2024 |
No mês passado, eu tirei duas semanas de folga das redes sociais. Eu estava num daqueles estados mentais em que você fica 1 hora procurando algo que está na sua mão, e precisa se esforçar pra lembrar do seu próprio nome. Fazendo jus à minha idade (ou, pelo menos à idade da minha coluna), eu disse a mim mesma: “isso aí é porque você não larga esse celular!”, e foi aí que decidi me deixar de “castigo” (e bote aspas nisso), sem celular por um tempo.
Pra completar o cenário, eu fiz uma pequena viagem pro interior do Paraná pra visitar a família, então acabei me isolando não só digitalmente, mas fisicamente também, estando longe de casa e das pessoas com quem eu convivo normalmente. A não ser pelo meu e-mail (e pelos 4 parentes que eu via todos os dias durante a minha viagem), eu fiquei praticamente incomunicável.
Tem algo de estranho em ficar isolada dessa forma numa era em que o normal é estar conectada o tempo todo. Não é um estranho ruim, é um estranho… estranho, inesperado, eu acho. É como um grande alívio com o qual não se está acostumado. É como passar 20 anos com o nariz entupido e de repente, do nada, conseguir respirar direito.
Porque, sim, estar conectado é um sobrepeso. A nossa mente não foi construída para receber a quantidade de informação e estímulo que a gente recebe todos os dias. Não à toa, todo mundo tá sempre cansado, o tempo todo. E, de alguma forma, receber todo esse estímulo acaba virando um vício. Por isso nosso dedo abre os aplicativos antes que a gente perceba o que tá fazendo, e por isso a gente tem “FOMO”, fear of missing out, medo de perder, perder a última novidade, a última foto do amigo, a última atualização daquela celebridade, o último meme, acabar ficando “por fora”.
Eu achei que ficar desconectada seria mais difícil. Achei que ia ficar ansiosa por não saber o que está acontecendo nos mundinhos dos quais eu faço parte, de voltar depois de um tempo e não entender mais nada, porque perdi apenas duas semanas de informação.
Mas eu acabei experimentando o “JOMO”, joy of missing out, a felicidade de perder. Todos os dias, as únicas informações com que eu tinha que lidar eram as que estavam diretamente diante de mim: se ia chover ou não, se o cenário que eu desenhei ficou bom, qual jogo de tabuleiro ia jogar com meus primos quando eles chegassem da escola. Eu “perdi” todo o resto, todas as novidades e pensamentos compartilhados de pessoas que estavam fisicamente longe de mim, todas as notícias do mundão e do mundinho das artes, tudo o que normalmente eu ficaria sabendo dos meus amigos.
Bom, não tudo. Eu acabei falando com alguns amigos e familiares por telefone e por e-mail, sim, como nossos ancestrais faziam; o que foi muito nostálgico e muito bom. Foram contatos mais “sólidos”, por assim dizer. Os e-mails eram longos e diziam mais. Tinha mais coisas para contar nas ligações. A distância do resto do mundo me aproximou mais ainda das poucas pessoas que estiveram por perto. De resto, eu não senti como se fosse realmente uma perda. Só a perda da sobrecarga mental com a qual eu já tinha me acostumado na última década; daí o grande alívio.
Mas eu obviamente acabei voltando pras redes, e eu nem vou me aprofundar em porquê a gente vive desse jeito. As coisas são como são. A gente quer manter contato, a gente precisa de rede social pra trabalhar. E, vamos ser honestos, a gente gosta de viver assim. Eu gosto também, é mais fácil, mais prático, e se não fosse pelas redes sociais, eu dificilmente estaria trabalhando em tempo integral como quadrinista, como eu trabalho hoje. Só depois de voltar pras redes eu fui ver os comentários na postagem onde eu disse que ficaria desconectada: dezenas de comentários de carinho me desejando um bom descanso, e até alguns dizendo que iam aproveitar pra se desconectar também!
Quem sabe um dia não acontece um êxodo digital massivo, e todo mundo volta às relações analógicas da vida… Mas até lá, seguimos fazendo post no instagram e mandando newsletter que é o que tem pro dia!
N O V I D A D E S
Eles existem! Os bichos de pelúcia dos passarinhos já existem fora do mundo das ideias e no mundo real! Por enquanto temos só as amostras dos bichinhos, mas olhe como eles são rechonchudos:
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E eles já estão na pré-venda!
Aliás, deixa eu explicar como funciona isso de pré-venda, porque tem algumas informações importantes que vou destacar:
Nós (a Corvo Mateus) não temos um espaço físico que podemos usar de estoque. Por isso, quando a gente lança um produto que tem um valor e um volume maior, nós não podemos ter uma grande quantidade em estoque para vender aos poucos. A pré-venda é uma garantia que vamos produzir somente a quantidade de bichinhos que formos vender efetivamente. Muitos artistas independentes operam assim com seus produtos, até como uma forma de se prevenir contra furos no orçamento (e ter que ir morar debaixo da ponte).
Então, o período para encomendar as pelúcias vai até o dia 08 de dezembro, apenas! Logo que a pré-venda fechar, vamos somar todos os pedidos, e encomendar o número exato para o fornecedor. Só será produzida a quantidade de pelúcias igual a quantidade de pedidos, e por isso esse produto é uma edição limitada! Não será mais comercializado após a pré-venda!
Com tudo isso, existe uma questão também do prazo: Apenas depois do dia 08/12, quando fecharmos o pedido com o fornecedor, as pelúcias vão começar a ser produzidas. Esse fornecedor trabalha com outros clientes e tem a sua própria agenda de pedidos, além do nosso; além disso, esse é um produto bastante complexo, que exige várias etapas de produção e o trabalho minuscioso de vários profissionais.
Por conta disso tudo, a previsão de tempo de fabricação é de mais ou menos 3 meses. Aí o fornecedor vai enviar o produto para nós, e nós vamos preparar cada pedido para ser enviado para quem comprou, o que leva à nossa previsão de entrega, que ficou para meados de março de 2025.
Sim, é demoradinho. Mas é um produto especial e exclusivo, que está sendo preparado com todo esmero! Eu expliquei tudo isso porque acho importante ser transparente com todo o nosso processo. Eu estou muito empolgada com esse projeto, e posso dizer, pelas amostras que já peguei, que os personagens ficaram um xuxuzinho!
Então, se você estiver pensando em adquirir o seu, lembre de encomendar até o dia 08/12/24 na lojinha da Corvo! Lembrando que tem desconto pra quem encomendar mais de uma pelúcia, ou o livro junto com a pelúcia! 😉
C O M O E S C R E V E R U M A H Q
Quando você pensa em “escritor”, você pensa numa pessoa de óculos e cachecol, concentrada e serena, sentada com sua caneta elegante e sua caderneta surrada ou máquina de escrever, ao lado de uma janela por onde se vê a chuva cair num cenário melancólico e austero em tons pastéis? Eu sim. | ![]() |
E foi assim que eu me imaginei escrevendo o roteiro da minha HQ nova. É claro que na realidade eu estava de pijama na minha casa, alternando entre escrever um parágrafo e fazer uma parte da faxina, ao som da obra do lado de casa e de alguma briga de gato na vizinhança.
Escrever não apenas não tem nem 10% do glamour dos escritores dos filmes, como também não é um processo linear, quer dizer, em geral não se começa escrevendo a primeira página e termina na última. Na realidade, no começo dificilmente se sabe qual parte está no começo e qual está no final.
Pra mim (e eu descobri recentemente que pro C. S. Lewis também, lendo Sobre Histórias) tudo começa com algumas imagens soltas: um introvertido no alto de uma montanha, uma mulher pulando em um rio, uma planta num vaso, uma criatura misteriosa surgindo da névoa. Não só essas imagens, mas também falas, ações, consequências… são como peças soltas de um quebra-cabeça, peças que você quer ter na sua história mas não sabe bem como encaixar.
Então, o primeiro passo pra mim é registrar essas peças, em cartões que eu possa organizar e colocar numa ordem que faça sentido (ou, um pouco de sentido, mais ou menos).
É melhor escrever em cartões, porque você pode facilmente remanejar e reorganizar a ordem dos acontecimentos, adicionando novos e eliminando alguns desnecessários. É nessa hora que eu começo a enxergar as lacunas na minha história: Em que momento o personagem A encontra o personagem B? Como a planta foi parar no vaso? Por que um introvertido que estava muito bem no alto da sua montanha decide sair dela? E vou criando as peças que faltam.
Essa não é a hora de desenvolver diálogos ou longas descrições. A escrita desses cartões tem que ser sussinta e rápida, porque muita coisa vai acabar sendo cortada, mudada ou até jogada fora. Muitas decisões difíceis precisam ser tomadas aqui: Esse pedaço de história, essa “imagem mental” que eu visualizei e quis colocar, ela realmente é relevante e vai adicionar sabor na narrativa? Ou está atrapalhando, tirando o foco do que realmente importa ou diluindo a essência de algum personagem? Pode ser doloroso, mas não pode ter muita dó nessa hora. O roteiro é como uma planta, você tem que podar, podar e podar as peças dele. E assim, pelo menos dois personagens que eu gastei vários dias moldando e idealizando foram parar (talvez para sempre) naquela velha gaveta de ideias descartadas. Não é mole ser pai de planta e mãe de personagem!
E falando em pai de planta, já tá na hora de apresentar o protagonista da história! Mas vai ficar para a próxima edição do Jornaliznho, quando eu falar de construção de personagem.
M U N D O D O S Q U A D R I N H O S
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Fechando os eventos de 2024, nessa finaleira de ano tem um evento da Mucha Tinta, na Gibiteca de Curitiba, com uma programação bem legal e feira de artes! Nesse evento eu vou participar de um bate-papo e falar sobre processo de produção da minha HQ nova (tentando compilar numa quantia razoável de tempo o que eu estou levando quinhentas edições do jornalzinho pra desfiar pra vocês haha).
E em dezembro temos a famigerada CCXP em São Paulo! No labirinto de stands megalomaníacos de grandes empresas com suas fabulosas ativações, habita um humilde trecho chamado Artist Valley, onde você pode encontrar, conversar, dar um tapinha nas costas e falar que vai ficar tudo bem para os seus artistas preferidos! Eu estarei lá, na mesa i38, com meus gibis e várias coisinhas.
Ah! E as pelúcias estarão disponíveis para comprar - e levar! - na hora, lá na CCXP! Então se você for ao evento e quiser levar seu passarito em primeira mão, aproveite a chance!
C R I A T I V O
Este espaço é reservado para poesias de qualidade questionável.
Passou voando, o dia
Tempo, corpo, ventania
É trabalho, é correria
Eu listo as horas, mania
Pago conta, moradia
internet, água, energia
Lápis na mão, louça na pia
Arruma, pega, faz, cria
Café quente, água fria
Cachorro late, gato mia
Jornalista noticia
Mundo, fogo, distopia
Segue o baile, que agonia!
Mas de vez em quando
eu vou parando
e paro,
respiro,
e vejo
tudo
como há tempos
não via.
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Até a próxima!
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