Lark
13 de março, 2025
Eu finalmente assisti o documentário Hayao Miyazaki e a Garça.
É um documentário mostrando um pouco do que foram os 7 anos que Miyazaki e sua equipe levaram para produzir a animação ganhadora do Oscar, O Menino e a Garça.
JORNALZINHO DA LARK | EDIÇÃO #07 • MAR2024 |
Eu finalmente assisti o documentário Hayao Miyazaki e a Garça.
É um documentário mostrando um pouco do que foram os 7 anos que Miyazaki e sua equipe levaram para produzir a animação ganhadora do Oscar, O Menino e a Garça.
Eu espero que você já conheça esse nome. Mas se não conhecer, talvez o que você deva saber aqui de imediato é que o Miyazaki é uma das maiores referências vivas, lenda, ícone e ídolo da maioria dos artistas. Ele é o tipo de velho que, posso dizer com alguma segurança, todos nós queremos nos tornar um dia. Ele é um artista sem precedentes, ele desenha, ele anima, ele escreve e cria histórias com um talento, uma sensibilidade e uma perfeição que te dá vontade de chorar. Os filmes dele são do tipo que você termina de assistir e pensa “por que eu vou sequer tentar fazer qualquer coisa da minha vida se essa obra prima já foi feita?".
Curiosamente, ou talvez nem tanto, ele passa uma grande parte do documentário jogando desenhos fora, reclamando, lamentando, se criticando, e tendo esse tipo de sofrimento aqui:
Assistir isso foi um pouco desesperador (“Até ele tem esse tipo de crise?!?!") mas também, de alguma forma, reconfortante (“bom… até ele tem esse tipo de crise…").
Eu cursei Arte Visuais porque desde pequena eu amava desenhar. Em algum momento, eu passei a trabalhar com o que amo e obviamente [ nunca mais amei nada ] comecei a ser mais criteriosa, aumentar minha régua de qualidade e ser muito mais exigente com o que eu desenhava. Desenhar não é mais uma coisa que eu fazia de bobeira, sem objetivo, só por diversão. É um labor. Eu encaro como uma missão, eu me cobro para realizar essa missão com excelência, e assim, desenhar se tornou um doloroso sofrimento pra mim.
Explico. Eu passei 6 anos desenhando tirinhas até decidir que estava pronta (kkkk) para fazer a graphic novel que eu sempre quis. Só que, nesses 6 anos desenhando tirinhas, eu nunca precisei desenhar uma montanha. Ou uma escada. Ou uma mesma planta vista de diferentes ângulos. Ou uma casa, uma fábrica, uma lareira, uma carroça, uma pá, uma ponte, um rio, botas, mãos, pés e roupas em todo tipo de posição e dobra que você possa imaginar. Eu poderia passar o dia listando coisas que eu não sei desenhar.
Cada uma dessas coisinhas exige estudo, treino, testes, e pilhas de desenhos jogados fora, até eu alcançar um resultado que até que dá pro gasto.
E cada desafio que se supera… é recompensado com outro desafio.
E eu gostaria de poder dizer que, no final de tudo, quando eu finalmente consigo fazer o que eu queria, eu me sinto muito realizada, contente e recompensada com meu trabalho. E, sim, isso acontece em algum grau (bem mais baixo do que era de se esperar). Mas o que também acontece é que eu termino e acho tudo um lixo. Me acho um lixo. Tipo, há quanto tempo eu tô nessa de desenhar? Anos e anos! Eu deveria ser capaz de fazer melhor do que isso. Eu nem sei como eu consegui enganar tanta gente por tanto tempo com esse papo de “sou quadrinista, comprem meus gibis”. E assim, o sofrimento de desenhar é seguido pelo sofrimento de olhar para os desenhos.
E, assim, estou falando só por mim aqui, mas acho que vocês ficariam supresos, assim como eu fiquei surpresa, com o quanto isso é comum entre artistas, com uma e outra exceção (estou olhando para você, Guilherme Match, para quem desenhar é um deleite). A tal da síndrome do impostor? Come solta. A autoestima sozinha não dá conta do recado, a gente precisa de validação externa o tempo todo, e ainda assim vai receber elogios com alguma desconfiança.
Resumindo: desenhar é difícil, dá trabalho, dói, come muito tempo, é insalubre pra mente e pro corpo… E tudo isso é verdade pra um desenho meia boca feito o meu. Multiplique isso por 10 pra um desenho bonito, elaborado, com perspectiva e anatomicamente correto. Desenhar é trabalho, um trabalho miserável. Esse monte de cabelo branco que eu tenho? Tudo de desenhar. Desenhar é sofrer.
Depois de tudo que eu disse, você acreditaria se eu dissesse que eu desenho porque eu AMO e não consigo me imaginar fazendo outra coisa da vida?
N O V I D A D E S
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A história inteira vai ter 200 páginas. A princípio, vou compartilhar em torno de umas 35 páginas nas redes sociais;
Isso porque, sim, você adivinhou, vai ter financiamento coletivo do livro físico, e eu sempre gosto de deixar a experiência da leitura completa em primeira mão para os apoiadores!
A campanha no Catarse vai abrir daqui a mais ou menos 1 mês, no dia 07 de abril (se você não conhece o Catarse ou como ele funciona, não se preocupe, vou explicar direitinho quando for a hora).
Espero de coração que vocês gostem da história! <3
Agora você pode ler (e deixar comentários!!) aqui no site, corvomateus.com.
Tem uma área reservada para todas as edições do jornalzinho, e uma para a HQ nova. Assim, fica mais fácil para quem quiser ler as coisas em ordem, encontrar edições anteriores e tudo mais!
C O M O E S C R E V E R U M A H Q
A parte do esboço é talvez a parte mais difícil, trabalhosa e cansativa da HQ toda. Porque é nessa hora que (sim, você adivinhou!) você desenha. Mas não é só o terrível sofrimento de desenhar, nessa parte você também tem que tomar todas as grandes decisões. Quantos quadros vão estar numa página? Em que ordem? Qual o tamanho de cada um? Como eles vão estar organizados?
Quantos balões de fala cabem num requadro? Como vai ser o enquadramento da cena? Vai mostrar o cenário, ou só a cara do personagem? A vista vai ser na altura do horizonte, de baixo pra cima, de cima pra baixo? Qual vai ser a expressão corporal e facial do personagem? E dezenas de outros detalhes.
E tomar decisões requer MUITO suco cerebral. Então era comum eu ficar exausta depois de fazer o esboço de uma única página.
Tem uma outra etapa que eu deveria falar antes dessa, que é design de personagem, mas não queria perder o ensejo do tema desse jornalzinho, então vou deixar o design de personagem para uma próxima edição (e dessa forma também evitar alguns spoilers).
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O que mais me fez (faz) apanhar sem sombra de dúvida é cenário. Eu tenho muita dificuldade e pouquíssima prática. E é claro que eu inventei de fazer uma HQ cheia de cenários elaborados e complexos. Mas eu fiz o meu dever de casa, ok? Eu estudei o que dava pra estudar dentro do tempo que eu tinha.
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Eu levei uns bons 8 meses pra fazer todos os esboços da HQ. E eu tive só umas 92.649.827 crises nesse período. Mas saí viva, e com o juramento solene de que minha próxima HQ vai ser toda feita com boneco de palito e sem nenhum cenário (eu sei que a Lark do futuro, que já inventou um projeto novo extremamente complexo, está rindo da minha cara nesse momento).
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Até a próxima!
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Comentários
ROBERTA
14 de março, 2025
RYAN
13 de março, 2025
ISABEL
13 de março, 2025