Lark
12 de agosto, 2025
Na última edição do jornalzinho eu prometi que falaria sobre financiamentos coletivos. Como essa parte acabou ficando bem extensa, vou pular direto pra ela, e vamos falar só disso dessa vez.
JORNALZINHO DA LARK | EDIÇÃO #12 • AGO2025 |
Na última edição do jornalzinho eu prometi que falaria sobre financiamentos coletivos. Como essa parte acabou ficando bem extensa, vou pular direto pra ela, e vamos falar só disso dessa vez.
C O M O E S C R E V E R U M A H Q
Existem várias formas de lançar uma HQ. Pode ser só digitalmente, através de editoras, de editais, financiamento próprio, etc. Muitas pessoas (como eu) recorrem ao financiamento coletivo por ser um jeito seguro e viável de arrecadar dinheiro pra isso. O que eu vou dizer agora não é um manual de como fazer financiamento coletivo, é a forma como EU faço, e que eu acho que funciona muito bem.
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Como você sabe se quer comprar algo ou não? Você vê a coisa e avalia se quer aquilo. Se você não vê, não tem como avaliar. Simples não?
Às vezes, se você já tem uma presença digital, você vai ter um e outro fã que, independente do que você fizer, ele vai querer de olhos fechados. Esses fãs são a minoria. A maioria quer saber do que se trata, então é importante dar uma amostra gratuita do que você está fazendo.
Se você anuncia um projeto como um “livro novo!” mas não mostra sobre o que é a história, não dá um trecho para as pessoas lerem, não apresenta com clareza o conteúdo do livro, não importa quão fiel seja o seu público, há uma enorme chance do seu financiamento falhar.
Por isso, antes mesmo de pensar em financiamento coletivo, eu começo divulgando minhas HQs. Assim, eu já consigo medir a aceitação e o engajamento do público, e isso vai ser uma métrica muito importante para os próximos passos.
(uma dica: se a história que você está compartilhando tiver um engajamento baixo demais, talvez seja melhor trabalhar na sua presença artística antes de pensar em financiar impressões).
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Para ilustrar melhor esse passo a passo, vou usar um livro fictício que será o GIBI:
Eu peço um orçamento para a gráfica, de 500, 1.000 e 2.000 exemplares. Quanto mais exemplares, mais o custo unitário do GIBI vai cair, então é sempre melhor imprimir mais exemplares, dentro da realidade de cada um; mas para todos os efeitos, vamos considerar o mínimo necessário neste exemplo.
O meu orçamento hipotético ficou assim:
500 GIBIS = R$25 cada = R$12.500
1.000 GIBIS = R$20 cada = R$20.000
2.000 GIBIS = R$15 cada = R$30.000
Vamos dizer que para enviar cada livro, eu vou pagar mais R$12 para os Correios, e gastar mais uns R$2,50 de custos extras (embalagem, marca-página, etc).
E além disso, se você for usar o Catarse (é o que todo mundo usa), lembra que tem uma taxa de 13% de tudo que você arrecadar que fica com a plataforma.
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Levando em conta os valores do exemplo acima, e considerando que seriam impressos 500 exemplares do GIBI, a conta ficaria assim:
Adicione mais uns quebrados que vai ser a taxa do Catarse, e a gente tem mais ou menos um custo de R$23.000 para imprimir e enviar 500 gibis para os apoiadores. A princípio, essa é a sua meta. PORÉM, algumas coisas devem ser consideradas:
> Se você não tem 1 pila no bolso para investir nesse projeto e quer realizar ele com toda a segurança, eu recomendo fortemente usar o valor total dos seus custos e a modalidade tudo ou nada no Catarse (ou seja, se não bater a meta, o dinheiro volta para os apoiadores e você não precisa enviar nada).
> Se você vai realizar esse projeto independente de quantos apoios tiver e está preparado para investir um capital próprio nisso, sua meta pode ser bem menor; porque neste caso, qualquer número de apoios que você tiver é lucro, o financiamento funciona mais como uma pré-venda, e mesmo que você não tenha 500 apoiadores, você vai ter um excedente de gibis que pode vender em feiras e eventos, e ter um retorno sobre o seu investimento.
Muitas pessoas colocam metas bem menores e mais fáceis de ser atingidas visando fazer uma arrecadação prévia do projeto, ou usam a modalidade Flex no Catarse. Algumas pessoas até colocam como meta apenas 1 real!
Por isso, a questão da meta varia de acordo com a situação e objetivos de cada um. O ponto mais importante é ter total responsabilidade financeira. É melhor colocar uma meta realista e não atingir do que colocar uma meta muito baixa só para ter mais certeza de bater, mas com isso acabar tendo um prejuízo não planejado, ou pior, dar um calote nos seus apoiadores (como certas editoras andaram fazendo).
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Abrir a campanha no começo do mês, quando todo mundo recebeu salário e tem dinheiro pra investir nela. Você quer que o primeiro dia da sua campanha vá bem, então ajude seus apoiadores a te ajudarem.
Calcular a data de encerramento também é importante. O fim da sua campanha idealmente vai coincidir com o momento que o pessoal estiver com dinheiro na conta, especialmente porque muuuuita gente deixa pra apoiar no último dia possível.
Cuidado com datas comemorativas e feriados! Muita gente não vai apoiar campanhas do catarse (às vezes nem ver a sua divulgação) quando estiver na praia ou no churras da família. É quando a galera estiver entediada e querendo matar um tempinho na segunda de manhã que você vai pescar a atenção do público.
Veja bem se você não vai estar entupido de compromissos e trabalho no período em que a campanha estiver aberta. Você precisa se programar para fazer uma divulgação consistente, porque só abrir a campanha não é o suficiente. Calcule a antecedência que você precisa para preparar essa divulgação.
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Nessa etapa eu geralmente vejo a campanha de outros artistas pra me inspirar, ver o que eu gosto ou não gosto e o que posso usar pra minha (lembrando: se inspirar não é copiar!). Algumas coisas que eu gosto e faço questão de fazer para minhas campanhas:
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7) Algumas coisas são populares em campanhas que você gosta, mas é muito importante que você avalie se isso faz sentido pra você. Por exemplo: Metas estendidas e nome dos apoiadores no livro são formas de recompensar os apoiadores que eu acho muito válidas e boas, mas que quando eu coloco na ponta do lápis, vejo que não faz sentido colocar na minha campanha. Essas são decisões pessoais.
8) Última checagem. Você colocou todas as informações necessárias na sua campanha. Hora de dar uma boa lida para ver se ela está clara e consistente (lembre que você está apresentando um projeto para pessoas que possivelmente não sabem como financiamentos coletivos funcionam). Ela não está extensa demais, confusa demais? Em última instância, considere: essa é uma campanha que eu gostaria de ler e apoiar? Show. Sua campanha tá pronta, hora de lançar!
MAS ANTES…
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Por isso, é importante fazer uma divulgação clara do que você está bolando, de como vai ser o gibi (ou livro, ou jogo, ou produto) que você vai lançar, e “vender o seu peixe”. Todo mundo tem que ver que seu projeto é muito legal e desejável.
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Você não quer aparecer tanto na timeline de todo mundo que as pessoas vão enjoar dos seus posts e deixar de te seguir, mas você precisa manter sua campanha no campo de visão dos seus apoiadores. Eu, particularmente, penso que um bom método é intercalar divulgação com conteúdo. Quem não estiver a fim de apoiar seu gibi (e muita gente não vai estar e tá tudo bem) continua recebendo suas artes, e “paga o preço” de ver a sua divulgação pra isso. Inclusive, é mais fácil convencer as pessoas mostrando a qualidade do seu trabalho do que insistindo num apoio todos os dias. De novo, aqui vale se inspirar na campanha de outros artistas e ver como eles fizeram.
Lembrando que boas formas de divulgação são: redes sociais (contanto que você tenha uma certa constância nelas), newsletters, colabs, panfletos em eventos presenciais… E não esqueça sua rede de amigos e familiares!
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De repente você tem uns 20mil reais na sua conta. Isso nunca aconteceu, você nunca viu tanto dinheiro, nem sabia que isso era possível. Além disso, você sobreviveu a várias semanas de um trabalho extremamente cansativo de divulgação. Você quer comemorar, dar uma festa, botar capa dura e verniz localizado no seu livro, comprar um presente pra sua mãe, mas CALMA LÁ!
Cada centavo desse dinheiro pertence unicamente ao projeto que você idealizou, e eu te prometo que você vai gastar ele todinho com o seu projeto.
Minha dica: tranque esse dinheirinho a sete chaves e use ele apenas para bancar os custos do seu projeto. Depois que tudo estiver produzido e entregue para todos os apoiadores, SE sobrar alguma coisa, você pode dar uma festa.
O pós-campanha é quando você vai construir a confiança com os seus apoiadores, quando você vai conferir profissionalismo e maturidade ao nome que você está construindo no mercado.
Isso inclui não só responsabilidade financeira, mas comunicação e carinho.
Mandar novidades de tempos em tempos, explicando em que fase do projeto você está e como anda a previsão de entrega é uma forma de tornar os seus apoiadores participantes do livro.
Aqui também é importante ser humano e vulnerável. Se houver algum problema ou imprevisto que vai impactar significativamente sua entrega, você pode abrir isso com seus apoiadores. O importante é ser sempre honesto e aberto com as pessoas que tornaram a realização do seu projeto possível!
E muito, mas muito importante: quando você financia uma campanha e recebe dinheiro das pessoas, você se compromete a entregar aquilo que prometeu. Se tudo der errado, você ainda tem essa responsabilidade, mesmo que você acabe saindo no prejuízo. Isso tem a ver com profissionalismo e confiança, mas mais ainda, tem a ver com ética!
EXTRAS:
Peça ajuda. Você não precisa bolar tudo sozinho. Muitas pessoas já fizeram financiamentos coletivos e sabem como várias dessas coisas funcionam. Se você tem amigos/conhecidos quadrinistas, não tenha medo de pedir uma dica, uma opinião ou até uma mãozinha.
Se você quer muito que seu projeto dê certo, considere como parte do investimento pedir uma consultoria para quem manja do assunto.
E se não der certo? Tudo bem! Você colocou a campanha no ar, mesmo que não seja financiada, você já deu um passo enorme e aprendeu muita coisa. Sempre existe a próxima vez. Não desista!
Se você não se sente pronto pra uma campanha enorme, comece pequeno. O meu primeiro impresso publicado foi um zine de grampo de 10 páginas em preto e branco, eu imprimi só 20 cópias (do meu próprio bolso) e fui vender numa feirinha local. Hoje eu tenho um pouco de vergonha de como ele ficou, mas esse zine me abriu muitas portas. A gente ganha mais (aprendizado, experiência, conhecimento) realizando uma coisinha pequena até o final do que passando anos planejando um projeto gigante e megalomaníaco mas nunca realmente executando ele.
Por hoje é só pessoal! Bora meter a cara e fazer gibi (e arte e livro e jogo)!
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